“Seu amor me tem dado grande alegria e consolação, porque você, irmão, tem reanimado o coração dos santos.” 

Filemom 1:7

O apóstolo Paulo estava preso quando escreveu esta carta para Filemon.  Paulo ouvia falar do testemunho de Filemon, conforme escreveu nesta carta, no versículo 5: “porque ouço falar da sua fé no Senhor Jesus e do seu amor por todos os santos”.

Quem era Filemon?

Filemon era um cristão exemplar, morador na cidade de Colossos. Nesta época a escravidão era uma situação social “normal” aceita pela sociedade, legalmente permitida pelo Império Romano. E Filemon tinha um escravo chamado Onésimo, cujo nome tinha por significado a palavra “útil“. Em determinado momento da vida de Filemon, o escravo Onésimo fugiu para Roma, onde foi evangelizado e convertido pelo apóstolo Paulo.

O apóstolo Paulo escreve esta pequena carta para Filemon, com o objetivo deste: perdoar o escravo que poderia retornar para Colossos, acolhendo-o como um irmão em Cristo (descrito nos versículos 8-22 do livro de Filemon).

O escravo Onésimo prejudicou Filemon por dois motivos: além de fugir para Roma, causou algum dano econômico, ao seu senhor Filemon, conforme descrito em Filemon 1:18, quando Paulo pede para Filemon receber Onésimo de volta, perdoando-o, e na possibilidade deste, o ter prejudicado financeiramente, que fosse posto o prejuízo na conta do apóstolo, conforme descrito no texto bíblico: “Se ele o prejudicou em algo ou lhe deve alguma coisa, ponha na minha conta“.

Dois temas importantes são apresentados nesta carta: a necessidade do perdão e a importância de nós cristãos se preocuparmos com questões sociais, como o apóstolo aqui estava preocupado com a aplicação dos valores cristãos à realidade social da escravidão, especificamente preocupado com o escravo que agora tinha compreendido o evangelho de Cristo e desejava retornar para o seu proprietário Filemon.

Paulo, neste momento, não pretendia que a escravidão fosse abolida, nem o evangelho estava preocupado em mudar os padrões e modelos sociais vigentes. Paulo propunha uma mudança de atitude de Filemon nesta relação senhor e servo, que ele mantinha com Onésimo, para que Onésimo fosse utilizado na propagação do evangelho na cidade de Colossos, junto com Filemon, quando Paulo informa em sua carta, dizendo no verso 10: “apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei enquanto estava preso.”

Paulo está se referindo a Onésimo, como um filho que foi gerado espiritualmente, pois Paulo havia comunicado o evangelho de Cristo para ele, e Onésimo se converteu com a mensagem da cruz, tendo uma transformação interior perceptível para o apóstolo.

Paulo sabia da sua responsabilidade pessoal na conversão de muitos cristãos, bem como na conversão de Onésimo, quando informa em sua carta aos cidadãos de Corinto, em I Coríntios 4:15:  “Embora possam ter dez mil tutores em Cristo, vocês não têm muitos pais, pois em Cristo Jesus eu mesmo os gerei por meio do evangelho.”

Paulo sabia que Onésimo, havia sido gerado espiritualmente na fé cristã, como um pai gera um filho, ao comunicar a mensagem do evangelho para este escravo fugitivo.

O apóstolo Paulo tinha uma responsabilidade pessoal pelos cristãos, como Onésimo, que ele havia pregado o evangelho de Cristo, conforme descrito em Gálatas 4:19:” Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que Cristo seja formado em vocês.”.

Paulo sabia que o desenvolvimento da salvação no coração de Onésimo, dependia de sua intercessão, como também de sua ação pessoal, enviando esta carta para seu proprietário, o senhor do escravo, Filemon, para que Cristo, pudesse amadurecer na mente e no coração do escravo Onésimo.

Paulo sabia da importância, naquela época, de Onésimo poder ser um testemunho vivo do perdão de Filemon para com ele:- para que o evangelho pudesse crescer em Colossos e outras pessoas pudessem crer na transformação do evangelho de Jesus Cristo.

Receber um escravo fugitivo de volta, sem uma punição ou castigo do senhor para com seu servo, ou do proprietário para com seu escravo, seria algo impactante na sociedade daquela época. As pessoas ficariam curiosas em saber, por que motivo Filemon não castigou Onésimo, este fato, contribuiria para que o evangelho pudesse ser apresentado e divulgado entre os moradores de Colossos.

O testemunho cristão de Onésimo, em Colossos, seria mais importante que o problema particular de Filemon.

Aplicação Prática:

Em muitas situações de nossas vidas, apesar de sermos cristãos, como Filemon também o era, ficamos preocupados com situações pequenas e particulares em nossas vidas, como foi o caso da fuga do escravo de Filemon, quando Deus deseja que fiquemos preocupados com algo maior, que é o nosso comportamento e testemunho cristão, para que outras pessoas possam conhecer a mensagem transformadora do evangelho de nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo, não apenas pelo nosso falar, mas principalmente em nossos relacionamentos interpessoais com elas.

Nesta história de salvação, do escravo Onésimo, podemos aprender quatro lições práticas:

1. Fale do evangelho: Percebemos o chamado de Deus para seus escolhidos, mesmo em situações improváveis e adversas. Paulo estava preso e de alguma forma, não descrita na Bíblia, ele teve contato com o escravo fugitivo de Colossos e o pode evangelizar. É Deus que chama os escolhidos. Cabe a nós divulgarmos o evangelho, mesmo em situações que julguemos como improvável que uma determinada pessoa venha a compreender Cristo e se converter. É Deus, através do Seu Santo Espírito, que converterá o pecador de seus pecados (João 16:8). Cabe a nós a responsabilidade de falarmos do evangelho. As adversidades não podem reter a Graça de Jesus, nem o poder do evangelho.

2. Não discrimine ou selecione alguém para falar de Jesus: Percebemos também a importância de comunicarmos o evangelho de Jesus Cristo, sem termos preconceito, ou, fazermos distinção, discriminação ou seleção de pessoas. Se Paulo tivesse discriminado, de alguma forma, aquele escravo fugitivo, o evangelho não teria sido comunicado para ele, nem haveria transformação em sua vida. Veja o que a Bíblia nos informa sobre nossos preconceitos em Atos 10:34-45, informando que Deus não faz acepção de pessoas:  “Então Pedro começou a falar: “Agora percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo.”

3. Contribua na divulgação do evangelho: O evangelho se desenvolve no coração de um novo convertido, pela ação e testemunho de todos os cristãos envolvidos com aquela pessoa. Se Filemon não tivesse perdoado e recebido seu escravo Onésimo de volta, talvez Onésimo pudesse, desanimado, desistir do evangelho, bem como outras pessoas na cidade de Colossos, não seriam impactadas por este testemunho de amor e perdão, numa situação crítica que era a fuga de um escravo. O apóstolo Pedro em 1 Pedro 2:12 nos exorta a vivermos de maneira exemplar: “Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção.”.

4. O Evangelho não deve ser imposto: Outro ponto importante a ser destacado, o evangelho não deve ser imposto ou obrigado na vida de pessoas. Paulo não usou de sua autoridade apostólica, nem tão pouco de seu poder religioso, eclesiástico, para falar de Jesus para Onésimo, nem tão pouco, impor para Filemon o perdão para o escravo fugitivo. O apóstolo Paulo, não usa de sua autoridade, desta forma, não impôs o pedido e apelo de perdão. Humildemente o apóstolo Paulo fez sua solicitação para Filemon, com a finalidade que Onésimo pudesse ser recebido de volta, pois Paulo tinha em primeiro lugar: amor pelo filho da fé gerado, desejava promover o perdão no relacionamento quebrado entre Filemon e Onésimo. O apóstolo também visava um alvo maior que seria o crescimento do evangelho na cidade de Colossos.

Precisamos ser humildes: perdoando, cedendo, compreendendo, incentivando, nos responsabilizando pela vida dos novos convertidos, dentre alguns relacionamentos possíveis, a serem praticados pelo nosso testemunho, para que o mundo creia na mensagem de salvação, para que o evangelho seja consolidado na vida de muitos.

Sermos humildes é uma característica importante em nosso comportamento cristão, conforme o apóstolo Pedro nos ensina em 1 Pedro 5:5: “Da mesma forma jovens, sujeitem-se aos mais velhos. Sejam todos humildes uns para com os outros, porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.

Que Deus nos ajude a impactar novas vidas, com nosso comportamento e com o evangelho de Jesus Cristo.

 O perdão liberta nosso coração e promove maturidade em nossa vida cristã.

Que pratiquemos o perdão, em nossos relacionamentos, visando algo maior que é a prática do amor de Deus entre nós, bem como a divulgação do evangelho através de nosso testemunho cristão.

Que nosso estilo de vida, através de nosso comportamento, possa ser um testemunho vivo de quem é Jesus Cristo para aqueles que ainda não se decidiram a seguir o Mestre.

Que possamos reanimar o coração dos novos convertidos, dos santos e separados por Deus para o evangelho de Jesus Cristo, daqueles que chamados por Deus estarão próximos de nós, sob nossa responsabilidade e influência direta.

Pr. Luiz Francisco Contri